domingo, 26 de dezembro de 2010

Fórum Internacional de Contadores de Histórias - 2010

TOCO participou nos dias 15 e 16 de dezembro do II Fórum Internacional de Contadores de Histórias: Tu me conheces? Eu te conheço! em Pelotas - Roda 4: coordenadora Professora Fabiane Tejada. A roda de histórias serviu para apresentarmos o Projeto, o grupo, os objetivos e as experiências/vivências com as Comunidades.

domingo, 5 de dezembro de 2010

TOCO – UM ESPELHO REFLETOR DAS OPRESSÕES HUMANAS.

Ana Alice Müller

Mais do que fazer teatro, trabalhar nas comunidades com o teatro do oprimido é participar de um processo humano, coletivo e complexo. E até que ponto esse nosso trabalho pode vir ao encontro do auxilio das pessoas que entram em contato com esse fazer teatral, suas possibilidades e intencionalidades?

O teatro do oprimido proporciona para quem faz e quem assiste um crescimento enquanto “ser”, em importância e valia, nos torna conscientes de nossas fragilidades e de nosso potencial, para sobrepujar determinada situação de opressão. Fazemos o papel de espelho para refletir a percepção da opressão, essa responsabilidade faz com que nosso desafio seja tratar as cenas com bom senso e respeito, procurando fazer uma abordagem antecipada da realidade social, econômica e cultural em que aquelas pessoas vivem.

Nos perguntamos quais as questões que poderiam ser trabalhadas, depois de alguns jogos de entrosamento e aquecimento, já com uma confiança estabelecida?

Conforme disse Augusto Boal (1991), [...] o teatro não só oferece exercícios práticos da maior importância para atores profissionais, mas também para o homem comum, como meio de desentorpecer o corpo e a mente dos condicionamentos da vida atual e de ter acesso a essa elevada forma de expressão coletiva que é o TEATRO. Acabamos distribuindo a turma em grupos de três ou quatro e começamos um trabalho de conversas e indagações nas quais as mulheres vão colocando as opressões que vivem. Temos que fazer com que o espect-ator possa utilizar sua própria emoção, e assim possa lutar contra a opressão que reconheça refletida nas cenas. Um dos cuidados que o TOCO procura ter é encarar o trabalho com muito respeito pelas histórias de vida das pessoas, pois lidamos com as fragilidades, as opressões dos indivíduos, ao mesmo tempo que não é nosso objetivo darmos fórmulas nem receitas, eles é que devem achar as soluções para suas opressões.

Nossa intenção deve ser gerar um diálogo na sociedade fazendo com que os indivíduos desenvolvam sua autoconsciência, e desenvolvam mecanismos para o reconhecimento de onde vem sua opressão. É muito gratificante poder fazer um trabalho, onde as pessoas se percebam, se enxerguem realmente, e de ser uma mediadora para que isso aconteça. É enriquecedor, pois vamos percebendo que nos acostumamos com as opressões impostas pela família, pela sociedade e nos alienamos, incorporando estas opressões no nosso cotidiano, na nossa alma e isso aos poucos nos vai enrijecendo, quando percebemos estamos usando do mesmo experiente que é a opressão sofrida para oprimir. Para mim neste aspecto está á importância e a grande contribuição do teatro do oprimido, o individuo se enxerga também como opressor, podendo em algum momento tentar se libertar desta condição, pois somente tomando consciência de nossas ações é que podemos transformá-las.

Nas cenas sempre há o opressor, irredutível e intolerante, e nesta relação a qual nos colocamos, de espelhos refletores destes comportamentos opressores, me pergunto: qual o sentimento do opressor que se reconhece nas cenas? Indiferença? Vergonha? A que ponto o opressor é tocado? Este é o desafio do Teatro do Oprimido, que é fazer o opressor se reconhecer tanto quanto o oprimido, e também querer mudar, querer se tornar um indivíduo melhor.

A confiança de que o trabalho do TOCO esta alcançando seu objetivo, é percebida pela vontade que os espect-atores têm de entrar no jogo, e suas fisionomias quando estão tentando uma solução para a cena proposta, se tornam fortes e confiantes.
O fascinante no trabalho do TOCO é o fato dele buscar uma intervenção junto a um determinado seguimento da sociedade, visando à inclusão social e o desenvolvimento humano onde ele atua, é a arte contribuindo na construção da cidadania, e de onde possa deixar multiplicadores atuando nestas comunidades, capazes de se fazerem agentes transformadores da rotina opressora que os rodeia. Estimulando cada vez mais a descoberta desses novos caminhos, provocando aos atores sociais e aos espect -atores para que estes visualizem novos rumos, onde o teatro possa se desenvolver.
Através de jogos, técnicas e exercícios do arsenal do oprimido. Augusto Boal mostra como é importante estimular o cidadão, seja ele ator ou não, a ter uma curiosidade critica, a desafiá-la a aprender a subjetividade do conteúdo, e não transformá-lo num repetidor de palavras, mas sim adquirir uma prática que não pode deter-se á leitura descontextualizada do mundo, ao contrário, vincula o homem nessa busca consciente de ser, estar e agir no mundo, num processo que se faz único e dinâmico , melhor dizendo, é apropriar-se da prática dando sentido à teoria e sobre esse conceito freire diz “[...] a práxis, porem, é ação e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (1983, p.40). Portanto, a função da prática é a de agir sobre o mundo para transformá-lo. E assim como um espelho refletor o TOCO vem procurando fazer seu papel social é nisso que nós os participantes deste projeto acreditamos.