sábado, 27 de agosto de 2011

Agenda

Estaremos com as Comunidades:

Dunas: dia 03 de Setembro - sábado - no CDD das 14 as 17hs
Z-3: dia 10 de Setembro - sábado -  Salão Paroquial das 14 as 17h

Agenda

O grupo participou de 24 a 26 de agosto do II Seminário Ensino da Arte com O trabalho: O diálogo do Espect-Ator: Experiências no Projeto Teatro do Oprimido na Comunidade

Na sala de comunicações/apresentações encontramos trabalhos que contribuiram para o enriquecimento e trocas de experiências com Arte-Educação, Teatro, Comunidades, Dança, Educação Ambiental e outros!

O DIÁLOGO DO ESPECT- ATOR: EXPERIÊNCIAS NO PROJETO TEATRO DO OPRIMIDO NA COMUNIDADE


Profª. Fabiane Tejada da Silveira
CEART- UFPel
Acad. Celio dos Santos Soares Jr.
CEART- UFPel
Acad. Lucia Elaine Carvalho Berndt
CEART- UFPel

O Projeto de Extensão Teatro do Oprimido na Comunidade- TOCO, desenvolve oficinas com as técnicas do Teatro do Oprimido de Augusto Boal desde fevereiro de 2010 nas comunidades da Colônia de Pescadores Z-3 e do bairro Dunas, ambas situadas na cidade de Pelotas- RS. A práxis pedagógica teatral referida constitui- se a partir dos pressupostos da Estética do Oprimido, projeto criado e desenvolvido pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal, na década de 60 e 70 quando esteve no exílio, provocado pela ditadura militar no Brasil.
Nossos objetivos com o TOCO atualiza o pensamento de dois importantes teóricos da educação e da arte no Brasil, Paulo Freire e Augusto Boal. Com o olhar voltado para a práxis- pedagógica teatral focada no Teatro do Oprimido, que assume-se enquanto proposta educativa e artística que pressupõe a formação de um sujeito engajado na luta pela transformação de uma sociedade opressora e injusta, organizamos as oficinas nas comunidades referidas acima.
 O sujeito pensado por Paulo Freire mostra-se comprometido com a construção de suas subjetividades, sem negar que esta só acontecerá na/pela troca de experiências com o grupo e o outro e que se produz no movimento dialético da história em consonância com a responsabilidade de transformar a realidade opressora. Para Augusto Boal buscar na arte teatral um caminho para revelar nas subjetividades dos personagens assumidos as experiências opressoras que entram em crise, abre uma oportunidade de superação desta opressão, no momento em que as pessoas envolvidas nas cenas (espect - atores) são convocadas a dizerem sua palavra em ação. Este é o sentido da palavração pensada por Paulo Freire. Ou seja, a palavra é ação quando pronuncia o mundo para a transformação das injustiças.
Nas reflexões que fazemos sobre a ação do grupo nas comunidades percebemos que as pessoas gradativamente aumentam seu envolvimento e participação nas propostas apresentadas, quando o sentido é transformar as opressões instaladas no seu cotidiano. As mulheres, que são a maioria em nossos grupos de trabalho, reconhecem nas cenas teatrais possibilidades de transformação das opressões que envolvem seu cotidiano, assim elas passam a ter mais esperança nas ações que podem ser feitas por elas mesmas no dia-a-dia.
Em uma proposta que realizamos com o Teatro imagem (umas das técnicas do Teatro do Oprimido) as senhoras da comunidade fizeram duas imagens numa cena, como se fossem dois quadros em um: uma parte da cena mostrava o atendimento do SUS, com as pessoas numa eterna espera e com “expressão facial” de dor, com o médico apenas circulando no local sem olhar para os pacientes (cena de opressão) e no outro quadro (ao lado) o atendimento em uma clínica particular, médico com o doente já tratado e outros esperando com uma expressão de felicidade no rosto, sem dor. Na técnica de Teatro imagem, as pessoas apresentam uma cena de opressão “congelada” (sem movimentos) que acontece no bairro, logo após o grupo que observa a cena (espect- atores) entram na mesma cena procurando encontrar alternativas para superar tal opressão.
Destacamos que Fátima (uma das moradoras do bairro Dunas, espect- atriz da cena descrita acima) pensou em fazer um dia de mutirão na frente da Secretaria da saúde do município, convidando pessoas para fechar a rua e chamar a atenção para o problema da saúde em Pelotas. Foi uma maneira encontrada por ela de avançar em busca da superação da opressão destacada pelo grupo. Para Freire
A práxis é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimidos. Desta forma, esta superação exige a inserção crítica dos oprimidos na realidade opressora, com que, objetivando-a, simultaneamente atuam sobre ela (2000, p.38).
Em nossa práxis- pedagógica provocamos através do diálogo proposto nas cenas teatrais, o olhar das pessoas para as opressões que fazem parte do seu dia-a-dia, tornando-as conscientes das situações e mecanismos sociais que promovem tais opressões. Quando as opressões aparecem na cena teatral o desafio é encontrar possibilidades de sua superação, através de uma nova cena que será caminho de transformação. Com as técnicas de Teatro do Oprimido procuramos, nas comunidades que tivemos contato, incentivar a transformação dos sujeitos e da sua realidade através deste “diálogo cênico” . Como diz Boal no livro A Estética do Oprimido:

A Estética do Oprimido não inventou nenhuma panacéia para os males da cidadania, mas com ela é possível reverter o curso da acelerada desumanização dos oprimidos nesta época sombria. Como a humanidade sempre esteve dividida, os opressores determinam formas e conteúdos da arte, impõem visão do mundo a todo mundo. É normal que os oprimidos contra isso se rebelem. A estética do Oprimido busca criar seus próprios valores, sua verdade.  (p. 168, 2009).

Nesta reflexão sobre nossa atuação no Projeto TOCO, procuramos enfocar os dois importantes sujeitos da práxis teatral: o espectador e o personagem, que no teatro de Boal resgatam o espetáculo teatral como festa, “obra aberta”, onde qualquer pessoa pode participar, ora como sujeito que se vê através do olhar do outro que assume um personagem do cotidiano, e ora como ator/atriz que está em ação para refletir a opressão que sofre e/ou superá-la. Nesta perspectiva o teatro aposta na relação do “eu com outro”, em uma permanente proposta de reconstrução social através do diálogo.
Boal busca a redemocratização do teatro, sua função de acesso ao político e popular. Com objetivo de levar a arte ao encontro de cada vez mais pessoas, propondo que estas se apropriem daquela para construção de um mundo mais justo, observamos que a vida e a arte envolvem as pessoas das comunidades que participam do projeto, para torná-las sujeitos que experimentam- se no movimento de sua própria história.

Referências:
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. 5ªed. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 1988.

_____________ . O Arco –íris do desejo. Método Boal de Teatro e Terapia. 2ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.2002.

_____________. A Estética do Oprimido. Rio de janeiro: Garamond, 2009.

BRECHT, Bertolt. Breviário de Estética Teatral. Buenos Aires. Ediciones La Rosa Blindada, 1963.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 29ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2000.
_____________. Ação cultural para a liberdade. SP: Paz e Terra, 2002.

GARCIA, Silvana. Teatro de militância. SP: Perspectiva, 1999.

TEIXEIRA. Tânia Márcia Baraúna. Dimensões sócio-educativas do Teatro do Oprimido: Paulo Freire e Augusto Boal. Tese de Doutorado. Universidade Autônoma de Barcelona. 2007. <http://www.tdr.cesca.es/TDX-1117108-164651/index_cs.html.> Acesso em 23 de agosto de 2009.








Ciclo de Palestras PIBD - Debatendo Teatro e Educação