terça-feira, 11 de outubro de 2011

Augusto Boal 80 Anos - Nossa Homenagem

 

Uma parceria do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e do Departamento de Arte Dramática do Instituto de Artes da UFRGS com o Instituto Augusto Boal e o Teatro de Arena de Porto Alegre.

Augusto Boal, um dos responsáveis pela renovação do teatro brasileiro nos anos 50 e 60 do século XX, como diretor do Teatro de Arena de São Paulo, teatrólogo e diretor brasileiro de maior influência no exterior, falecido em 02 de maio de 2009, completaria 80 anos de idade em março último. O Instituto Augusto Boal, lançado recentemente por sua família, demonstrou interesse em fazer em Porto Alegre um evento em comemoração a este aniversário, como já foi realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo e está sendo preparado também na cidade de Buenos Aires. Porto Alegre, dentre as cidades escolhidas, é a única onde Boal não morou, mas onde participou de atividades de formação e inspirou artistas e grupos com suas ideias e métodos, vinculando arte e política, concebendo teatro e vida como inseparáveis.

Cecilia Boal, sua esposa, virá a Porto Alegre especialmente para o evento, oportunidade ímpar de encontro, evocação e trocas, a partir das ressonâncias de Boal-em-nós.

Atividades do dia 16 de outubro:

14h – encontro de curingas, praticantes do Teatro do Oprimido e demais interessados com Cecilia Boal. Presenças confirmadas: TOCO – Teatro do Oprimido na Comunidade –, professores e alunos da Universidade Federal de Pelotas; NETO - Núcleo de Estudos do Teatro do Oprimido -, de Porto Alegre; Núbia Quintana, de Canoas; Araxane Raimundo e a Déia Alencar, de Guaíba; estudantes de teatro e a prof. Silvia Balestreri, da UFRGS; professores de teatro da rede pública de ensino de Porto Alegre; Érika Oliveira, pós-graduanda na UNESP e curinga, de Assis, SP, dentre outros.

16h – A Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveiz dedicará a Augusto Boal a apresentação do espetáculo de rua O Amargo Santo da Purificação. Local: Parque Farroupilha (se chover, não haverá espetáculo)

19h às 21h – Boal-e-Nós, boais-em-nós: apresentações artísticas, depoimentos e comentários afetivos sobre o legado de Augusto Boal. Participações: Cecilia Boal, pelo Instituto Augusto Boal; Jairo de Andrade, fundador do Teatro de Arena de Porto Alegre; Paulo Flores, pela Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveiz; Vai! Cia. De Teatro; grupo Tamanco no Samba; Silvia Balestreri, pelo PPGAC/ UFRGS; Lucia Berndt, do Grupo de Teatro da UFPel; a cantora Raíssa Panatieri e o violonista Leonardo Aprato.

Sobre Cecilia Thumin Boal

Cecilia conheceu Augusto Boal nos anos 60, quando era atriz na Argentina. Veio com ele para São Paulo, participou de espetáculos do Teatro de Arena - o da capital paulista -, como a Feira Paulista de Opinião, acompanhou e contribuiu na elaboração das técnicas de teatro do oprimido. O primeiro grande projeto que Boal concebeu na sua volta do exílio nos anos 80, a Fábrica de Teatro Popular, vinculada aos CIEPs no Rio de Janeiro, teve Cecilia como assessora e co-ministrante. Tem grande experiência como curinga, como são chamados os multiplicadores do teatro do oprimido. Formada em Psicologia na França, hoje é uma psicanalista conceituada no Rio de Janeiro. No final dos anos 90, experimentou novamente o prazer dos palcos, participando como atriz da Sambópera Carmen, criada por Boal com o maestro Marcos Leite. Hoje promove, junto aos filhos Fabian e Julián Boal, as atividades do Instituto que leva o nome do marido (http://institutoaugustoboal.wordpress.com/), cujos objetivos são “preservar e fomentar o legado de Augusto Boal”.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

3 OU 4 PERGUNTAS PARA UM BOM FÓRUM

Silvia Balestreri Nunes 
Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde trabalha com o
teatro do oprimido em disciplina, pesquisa e estágio. Participou do Plano Piloto da Fábrica de Teatro
Popular e da primeira formação do CTO-Rio.



Uma das modalidades mais utilizadas do teatro do oprimido no mundo todo - o teatro-fórum – é veículo de ativação e mobilização não apenas na hora de ser apresentado e de se convidar a platéia a intervir na cena - quando ela toma o lugar do(s) protagonista(s) para propor alternativas à situação mostrada, mas principalmente durante o processo de criação e montagem da peça. Os participantes-atores têm que se defrontar com uma série de questões para chegarem a construir o que chamamos um bom modelo para fórum - a peça propriamente dita. Cabe ao curinga sensibilidade para conduzir o grupo por tais questões: ainda que não sejam formuladas explicitamente, a resposta a elas terá efeitos sobre a qualidade do fórum, sobre a relação dos participantes entre si e sobre sua relação dali por diante com o tema e os problemas tratados.
Uma primeira pergunta com que cada um dos participantes da construção de um fórum tem que se defrontar, uma vez escolhido o tema, é: Qual a opressão de vocês em relação a esse tema? Quanto mais cheios de vida forem esses relatos, mais material se terá para criar os personagens e a cena. Um bom curinga já estará aí sendo atingido em sua sensibilidade, o que o ajudará bastante a conduzir o resto do processo: estará sensível às contradições, aos incômodos, à importância para cada um daquilo que está contando de si. Quando comecei a curingar, tinha muito receio de ser diretiva e acabava me omitindo de interferir em importantes momentos do processo. Só com o tempo descobri que, para dirigir e curingar, é preciso interferir, mas sempre de modo a não “atropelar” e a facilitar o movimento dos participantes, estando inclusive aberta a "dar ouvidos" às impressões que seus relatos e jogos de improviso suscitam em mim. Com essa primeira pergunta - "qual a opressão de cada um em relação ao tema?" - , inicia-se, de forma mais detida, um compartilhar de experiências, um movimento de coletivizar o que até então era vivido individualmente - início de uma verdadeira formação de grupo. "Grupo é ato"2, ou seja, só começa a acontecer quando, p. ex., um conjunto de pessoas se move na direção de um mesmo objetivo. Um importante passo para isso é as pessoas compartilharem e encontrarem o que é comum no que costumam viver como "problema pessoal". O fórum pode propiciar esse belo movimento, que é, a meu ver, dos mais
importantes presentes na construção do modelo e cuja apresentação e discussão com uma platéia é apenas uma espécie de clímax dessa coletivização dos problemas e da procura, em conjunto, de sua solução.
Uma outra pergunta, após a narrativa das queixas e opressões, necessária para que se esboce melhor quem será o protagonista e pelo que ele lutará em cena, é: O que vocês querem em relação a tudo o que foi colocado? O que querem em relação às opressões, problemas e insatisfações que apontaram? Esse é um momento riquíssimo, em que, muitas vezes, o curinga acaba promovendo uma verdadeira "quebra" nas posturas anteriores (dependendo, é claro, do grupo e do tema em questão). É como se estivesse dizendo: "Tudo bem, entendi tudo de que vocês se queixam, mas o que querem? Pelo que querem lutar? Como gostariam que fosse?" Não há aí nenhum convite à idealização de uma situação inalcançável, mas uma pergunta sincera sobre o modo como pretendem dizer "não" a uma realidade opressiva.
Em algumas situações, é difícil de responder, mas é fundamental para o grupo se defrontar até com a dificuldade de traçar rumos em determinados casos. Lembro-me de um fórum sobre relações amorosas nos dias de hoje, realizado por estudantes de psicologia. O primeiro momento, de compartilharem suas experiências sobre o tema foi relativamente fácil: falar da crise do casamento ou da atual mudança nas relações e no amor. "Sim, e o que vocês querem?", perguntei depois. "O que vocês querem quanto a essas questões?" A simples colocação da pergunta já põe o grupo numa posição diferente: a de sair da lamentação e da passividade para uma posição ativa - essencial para fazer um bom fórum e para uma postura positiva na vida. Os atores precisam saber o que estão querendo discutir com a peça e ter uma noção do que querem conseguir quanto ao "problema" analisado, para poderem definir o que o protagonista do fórum quer e pelo que ele luta – ou mesmo quantos “protagonistas” haverá na cena.
Uma vez esclarecido, na medida do possível, o que o grupo quer, ajudando a delinear um ou mais protagonistas para a cena, é hora de se perguntarem: O que atrapalha vocês de conseguirem o que querem?
Daí surgirá material para a construção dos antagonistas e de momentos importantes da peça. Às vezes, "o que atrapalha" é um tipo de organização social ou hierarquia, um modo de alguém falar, um tipo de relação em que se está enredado, ou mesmo uma culpa ou cobrança internalizados que impedem cada um de se mover. Neste caso, quando a própria pessoa é veículo de sua opressão, certamente está recorrendo a um tipo de censura e de repertório de culpabilização que está disponível no social: algo que é seu próprio pensamento e autocobrança (próximo ao que Boal chama os "tiras na cabeça") pode, por exemplo, ser colocado na boca e na ação de um dos personagens antagonistas. O mais importante será que o protagonista ou outro personagem oprimido e as platéias do fórum tenham que se defrontar com isso, perguntando-se o que fazer com tais mecanismos e experimentando alternativas.
Já terá sido bastante valioso um processo em que um conjunto de pessoas tem que "encarar" sinceramente cada uma das perguntas anteriores. E o fórum, como todo bom teatro, não funciona bem com "mentiras". Esse não é um processo exaustivo, os participantes devem falar de si apenas o suficiente para se fazerem ouvir, isto é, para que a cena seja o resultado de um trabalho verdadeiramente coletivo, para que tenha vitalidade nas coisas que afirma e que pergunta. Os participantes devem falar o suficiente para afetarem e serem afetados em sua sensibilidade, de modo a terem bom material para os jogos de improvisação e para a criação de personagens e diálogos.
Lembro-me de um fórum, também entre alunos de psicologia, em que estes queriam discorrer sobre drogas e homossexualidade. Só para citar a situação mais simples ocorrida, havia no grupo tanto pessoas que já tinham experimentado diferentes tipos das chamadas "drogas ilícitas", quanto pessoas que sequer se sentiam à vontade para falar sobre o assunto. A peça acabou girando sobre o preconceito, seja de que lado fosse, com lugar para diferentes tipos de personagens e posturas.
Apesar de já muito proveitoso o processo até aqui, uma pergunta fundamental para a criação da cena precisará ser respondida, pergunta que, como as demais, pode produzir interessantes ressonâncias na postura e na vida dos participantes: Quais as saídas para o que vocês estão colocando? Por onde é possível vislumbrar alguma transformação? O grupo precisa acreditar que há saídas, senão não haverá o que buscar junto às platéias.
Essa é uma garantia de que não se fará um fórum fatalista, o que não passaria de um "anti-fórum". Certa vez, dirigindo sindicalistas demitidos por sua militância, no interior de Minas Gerais, quase acreditei, num primeiro momento, que não haveria saídas para a opressão que viviam, tal era o teor de seus relatos. Mas o fato de estarmos ali reunidos para realizar um fórum era o melhor sinal de que queriam fazer algo com aquilo e que era um primeiro indicador de que poderia haver saídas. As respostas e mesmo as dificuldades de se responder a essa pergunta apontam os caminhos do fórum: saber qual situação deverá ser encenada para tratar da opressão em pauta é reconhecer por onde é possível começar uma efetiva transformação do que se está denunciando. Essas “saídas” serão insinuadas no modelo, ainda que o protagonista não seja bem sucedido ao buscálas.
Talvez essas sejam algumas razões para tanta popularidade do teatro-fórum. Para fazer uma boa peça, o grupo se confronta com questões que reviram qualquer possibilidade de postura cristalizada, desencadeia-se um processo que aponta o tempo todo para o coletivo e cuja coroação serão os debates teatrais - as sessões de teatro fórum - engendrados com as diferentes platéias. Vale lembrar que tais perguntas nem sempre precisam ser explicitamente colocadas pelo curinga, mas elas estão implícitas e os participantes são o tempo todo convidados a fazer sua travessia até chegarem à peça. É uma forma riquíssima de se trabalhar e mesmo de se formar um grupo; estão incluídos aí o humor, o fazer artístico e a busca de transformação social. Quem quer mais?

Publicado em METAXIS – A Revista do Teatro do Oprimido.
Ano I, nº I, dez 2001. p. 26 e 27.

Palestra da Professora Silvia Balestreri


Integrantes do TOCO participaram da palestra da professora Silvia Balestreri (IA-UFRGS) no dia 28 de outubro no Cilclo de Palestras promovido pelo PIBID-Teatro da UFPel. A professora abordou suas experiências com o Teatro do Oprimido, principalmente no período que teve a oportunidade de trabalhar ao lado de Augusto Boal no Rio de Janeiro. O encontro foi maravilhoso!

“Estaremos repassando um texto sobre Teatro Fórum e o convite da professora para no dia 16 de outubro de 2011 estarmos todos no Teatro de Arena de Porto Alegre homenageando Augusto Boal”.