O
Teatro do Oprimido na Comunidade também esteve presente no XXI Congresso de
Iniciação Científica da Universidade Federal de Pelotas. Na manhã de
Quarta-feira (21/11) a tocomana Graziele Barros compareceu a palestra sobre
Currículo Lattes, onde foram esclarecidas algumas dúvidas acerca desse
currículo padronizado do pesquisador. A apresentação de nossa pesquisa se deu em
formato de pôster e ocorreu na tarde da última quinta-feira (22/11), onde
estavam presentes as tocomanas Graziele Barros e a Professora Fabiane Tejada. Abaixo
encontra-se o resumo expandido que está publicado nos anais do
referente evento.
TEATRO
DO OPRIMIDO PARA FORMAÇÃO E AUTOFORMAÇÃO DE SUJEITOS
BARROS,
Graziele Soares de1; DIAS,
Mauricio Mezzomo²;
SILVEIRA, Fabiane Tejada da³
1Acadêmica de Teatro – Licenciatura/UFPEL –
graziele.barros@yahoo.com.br; 2Acadêmico de Teatro – Licenciatura/UFPEL
– mauriciomezzomo.ator@hotmail.com; 2 Professora Adjunto no
Curso de Teatro – Licenciatura – CeArt/UFPEL. ftejadadasilveira@ig.com.br.
1
INTRODUÇÃO
Nossa pesquisa tem
como base a experiência no Projeto de Extensão Teatro do Oprimido na Comunidade
(TOCO), que leva oficinas de teatro para bairros periféricos da cidade de
Pelotas. A partir deste projeto buscamos a relação entre o Teatro do Oprimido –
técnica teatral elaborada por Augusto Boal para democratização do teatro – e a
formação e autoformação dos sujeitos envolvidos.
Quando discutimos o conceito de formação em
nosso estudo, nos referimos à formação de professores de teatro, pois os
acadêmicos ministrantes das oficinas nos bairros, estudam no Curso de
Teatro-Licenciatura da UFPel. O conceito de autoformação
é trabalhado a partir das reflexões feitas com os acadêmicos e os demais
sujeitos envolvidos com o teatro que participam do projeto nos bairros.
Augusto
Boal pretende um teatro do Oprimido, que seja “[...] DOS oprimidos, PARA os
oprimidos, SOBRE os oprimidos e PELOS oprimidos [...]” (BOAL, 2011, p.30). Isso
que Boal propõe já nos mostra uma grande preocupação com as biografias dos
sujeitos - que são produtores de um teatro que os revela - e um grande
interesse na apropriação das técnicas do fazer teatral por esses, sejam eles
atores ou não atores. O teatro do oprimido não é apenas mais uma forma de arte,
mas um projeto de emancipação de vidas.
Boal quer
dar a todos o direito da ação no teatro, ou seja, fazer com que espectadores
não mais sejam apenas passivos perante a cena. Ao colocarmos biografias em
ação, em um mesmo espaço e tempo - com o intuito dos sujeitos refletirem-se na
própria ação - já estamos provocando o processo de formação e autoformação. Nas
oficinas ministradas pelo TOCO procuramos, a partir da sensibilização corporal,
compartilhar experiências teatrais e de vida. Quase nunca precisamos correr
atrás das opressões, elas surgem espontaneamente através do contar-se na ação.
2
METODOLOGIA (MATERIAL E MÉTODOS)
No início do trabalho
criamos um ambiente propício para a construção de saberes e de conhecimentos,
para que a todo tempo, enquanto estamos em atividade teatral os sujeitos façam
a relação com o que vivem e com o que viveram, buscando com tais atividades
cênicas que os sujeitos reflitam sobre o processo de autoformação. A pesquisa
qualitativa com observação participante e coleta de narrativas das pessoas
envolvidas nos projetos nos pareceu o melhor método para identificar quais
foram ás relações feitas pelos sujeitos da pesquisa, já que a narrativa
proporciona a produção do saber, e não seu consumo.
Trabalhamos com
pesquisa bibliográfica durante todo o processo de desenvolvimento das oficinas
nas comunidades, tendo em vista que os sujeitos, futuros professores envolvidos
com a pesquisa utilizam do referencial teórico para construir suas relações com
a prática da comunidade. Essa metodologia possibilita que a partir de nossas
reflexões pessoais sobre nossa práxis possamos dar novos significados ao que
aprendemos, tornando ressignificado o conhecimento.
o método
autobiográfico tem-se mostrado como opção e alternativa às disciplinas das
ciências humanas, para fazer mediação entre a história individual e a história
social, visto que, “o seu caráter essencial, é a sua historicidade profunda, a
sua unicidade” ao afirmar que toda práxis humana é reveladora das apropriações
que os indivíduos fazem das relações e das próprias estruturas sociais, para
ele podemos conhecer o social a partir da especificidade irredutível de uma
práxis individual. (MOURA apud. SILVEIRA, 2010, p.2)
Para produzir as
reflexões autobiográficas utilizamos de narrativas orais e escritas, pois tanto
uma quanto outra têm seu valor enquanto produção de saberes. “Saber narrar é
não apenas exercício de memória, mas é também estimular a tomada de posição”
(FREIRE; NOGUEIRA, 1991, p. 28). A narrativa provoca a reflexão e pode ser
compreendida também como uma forma de ação.
3 RESULTADOS E
DISCUSSÃO
O projeto TOCO existe
desde 2010 e surgiu da vontade de acadêmicos da Licenciatura em Teatro de
colocar na prática os ensinamentos de Boal. Desde então o projeto já passou por
duas comunidades: Dunas e Z3. Atualmente trabalhamos na comunidade da Z3
atendendo a crianças de 12 a 15 anos que têm interesse em fazer teatro.
Dentro de nossas
oficinas trabalhamos com as técnicas de Augusto Boal, mas também com outros
autores teatrais, fazendo com que metodologias diferentes tenham o mesmo
objetivo: torna-los sujeitos da ação. Isso porque acreditamos que a consciência
corporal e lúdica faz com que as pessoas reflitam sobre sua realidade, sem que
seja necessário explicitarmos essa busca, tornando o processo orgânico e
natural.
Dentro de nossos
referenciais teóricos encontramos também Paulo Freire e a educação popular como
eixo norteador. Um de seus ensinamentos válidos em nossa prática é o uso da
cultura que o sujeito nos traz. Dessa forma nossas oficinas se dão de acordo
com a vontade dos envolvidos no processo, que coincidem com os nossos
objetivos. Nesse projeto não buscamos uma cartilha fechada de metodologias
prontas para serem aplicadas, não utilizamos os chamados “pacotes” (FREIRE;
NOGUEIRA, 1991), muito pelo contrário organizamos o saber de acordo com as
oficinas. “Esse saber organizado se compõe a partir de situações de
reconhecimento.” (FREIRE; NOGUEIRA, 1991, p. 27).
Além disso, para nós
acadêmicos esse é um projeto rico, pois agrega: teoria, prática sobre a teoria
e experiência de vida. É esse o diferencial do projeto e o que faz com que nós
também sejamos sujeitos da ação, pois não estamos inseridos como meros
transmissores de conhecimentos, se não que também estamos em constante
aprendizado e autoconhecimento.
4 CONCLUSÃO
O TOCO é um projeto
que está em andamento e que ainda tem muitos caminhos a percorrer. Isso porque
o processo de formação e autoformação dos sujeitos pelas técnicas do oprimido
precisam de tempo para reconhecimentos, reflexão e ação. Ainda nesse projeto
precisamos ir à busca de maior referencial teórico para auxiliar-nos em nossa
prática. Também é necessário um tempo maior com o grupo o qual estamos
trabalhando na Z3 para que seja possível o levantamento de dados referente à
pesquisa com aqueles sujeitos.
O trabalho do TOCO é
comprometido com o trabalho na comunidade e visa à promoção de meios para a
capacitação de sujeitos capazes de se pensarem no mundo, de agirem e promoverem
transformação social. Através da metodologia que nos apropriamos, buscamos
formar sujeitos a partir de suas histórias de vida. Ao narrar-se em ação o
sujeito se percebe e se transforma. Deparando-se com outras histórias que
convergem, e ao mesmo tempo, divergem da sua, o ser da ação promove sua própria
formação. O processo onde se encontram educadores e educandos em um mesmo tempo
e espaço, trazendo para esse suas autobiografias, é inevitavelmente formador e
autoformador para ambos.
5 REFERÊNCIAS
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer – Teoria e Prática em Educação
Popular. Petrópolis: Vozes, 1991.
SILVEIRA, Fabiane Tejada da. Revisitando
pressupostos histórico-filosóficos para pensar a pesquisa autobiográfica nos
processos formativos. In: Anais do VI
CICLO DE ESTUDOS – EDUCAÇÃO E FILOSOFIA: TEM JOGO NESSE CAMPO?, UFPel -Pelotas,
2010.