RESENHA: GADOTTI, Moacir. ATUALIDADE
DE PAULO FREIRE
Continuando e reinventando um legado. Milano, 2002.
Moacir Gadotti nos apresenta um texto
muito objetivo no qual começa expondo a situação do conhecimento acerca da
teoria freiriana fora do Brasil. Ele coloca que a UNESCO, próximo aos anos
2000, criou um documento convocando para um congresso internacional e nesse
documento mostrava-se o desconhecimento por parte destes das teorias
posteriores às décadas de 70 escritas por Paulo Freire. Os textos do autor
começaram a ser publicados em português depois de seu retorno do exilio em
1979.
A partir deste quadro Gadotti situa o
leitor na teoria freiriana, apontando em primeiro lugar um dos pilares não
citados no relatório da UNESCO, o qual seria o “aprender para quê”. Os outros
quatro são: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver juntos e
aprender a ser.
O que é o ato de conhecer? Vivemos em
uma sociedade do conhecimento? O que se tem percebido é muito mais informação
circulando em todos os meios de comunicação, enquanto os meios de acesso ao
conhecimento continuam precários. Dessa forma podemos nos situar em que
contexto vivemos para pensarmos sobre o ato de aprender.
Como acontece a construção do
conhecimento? Resumindo as teses de Paulo Freire a respeito podemos dizer que
conhecer é construir categorias de pensamento a partir de algo que se deseja
conhecer, algo que seja selecionado dentre um mundo de informações que muitas
vezes não passam de lixo. Conhecer é uma condição do ser humano. Todos podem
aprender e ensinar.
Paulo Freire também vai afirmar que se
aprende através das próprias experiências a vida toda e é preciso de tempo para
aprender. Aprende-se o que tem importância para si, sendo que acumular
conhecimentos não é aprender. E a frase que da o maior exemplo da dialogia
freiriana é: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender.”.
Gadotti
nos faz pensar também a respeito da educação utilitarista que se vem instalando
cada vez mais nas instituições de ensino. Contrapõe a noção de saberes à de competências.
Essa última remete a ideia de um sujeito tornando-se ferramenta produtiva para o
sistema capitalista, formam-se indivíduos com competências para atuar em
diversos setores da sociedade, mas cada vez menos são formados seres humanos. É
necessário que o ser humano não seja um simples individuo de competências, mas
sim um sujeito do conhecimento que saiba pensar e saiba o porquê aprende e o
que aprende.
Em uma formação pode-se adquirir muitos saberes
e certos conhecimentos, no entanto se esta pessoa não tiver em sua prática a
competência necessária para um professor, este saber torna-se inválido. Segundo
o autor é atuando que “aprendemos técnicas e métodos sobre ‘como fazer’.”, essa
afirmação pode-se encontrar também na poética do Teatro do Oprimido de Augusto
Boal, pois, segundo este, um fórum não se faz de palavras e sim de ações que
possam ser transformadoras.
Para ensinar, antes de tudo, é necessário que
os educadores saibam como se aprende. O professor precisa pensar na consequência
de suas atividades futuramente, e entender que não trabalha sozinho, que a
escola deve ser um coletivo. A questão do coletivo é de grande relevância para
a atualidade escolar brasileira, posto que no sistema disciplinarizado em que
se encontra, muitos dos profissionais das instituições de ensino não se
comunicam e não se enxergam enquanto coletividade.
. E da mesma forma que é
necessário saber o porque saber aprender é também importante saber ensinar:
““saber porque” está ensinando e o que está ensinando”(GADOTTI, p:4). Saber
ensinar implica paradigmas para o novo professor, os quais Gadotti explica em
seu artigo. O novo professor é um profissional do sentido, pois ele dá/constrói
sentido para o conhecimento, é profissional que aprende em rede, pois participa
colaborativamente do processo de aprendizagem, o professor deve religar a
escola e o prazer, deve ter ética, e para ser ético deve ter um sonho, ou seja,
uma perspectiva, pensar numa educação com olhos no futuro e deve ser por fim um
promotor da vida, da paz e da sustentabilidade. A educação deve confundir-se
com o processo de humanização.
Mauricio
Mezzomo Dias e Graziele Soares de Barros
Do Artigo disponível em
: http://siteantigo.paulofreire.org/pub/Institucional/MoacirGadottiArtigosIt0044/Atualidade_PF_2002.pdf
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