domingo, 9 de janeiro de 2011

Relato

COMO TUDO COMEÇOU

Na tarde do dia 6 de fevereiro, um sábado, a convite de uma colega de curso para toda turma, se montou um grupo que levou à comunidade do Loteamento Dunas uma experiência diferente. Diferente não só para os moradores, como também para o grupo de cinco estudantes do curso de teatro, pois pela primeira vez foi colocado em prática pelos estudantes e moradores do bairro o Teatro-Fórum, uma das técnicas desenvolvidas pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal, dentro do Teatro do Oprimido - assunto estudado nas aulas de Teatro na Educação III, ministradas pela professora Fabiane Tejada. As encenações, que contaram com participação ativa dos moradores, integraram a programação do Fórum Social das Periferias. Depois desta atividade neste evento, o grupo se reuniu para avaliação da prática que foi proposta e assim nasceu o TOCO – Teatro do Oprimido na Comunidade.

O INÍCIO

A partir desta atividade desenvolvida, pensamos, por que não poderíamos dar continuidade a este trabalho que é tão gratificante e enobrecedor. E assim foi, no bairro Dunas, começamos com um grupo de mulheres do CRAS – Centro de Referência de Assistência Social que fica localizado em áreas de maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento socioassistencial de famílias dessas regiões. Mas foi na Z-3, bairro que fica no Balneário dos Prazeres, Laranjal que tivemos nossa primeira atividade como grupo “TOCO”. Com muitas idéias e propostas para estas duas comunidades, começamos o trabalho de pesquisa, para podermos saber com o que iríamos lidar. Entre os temas que pesquisamos e descobrimos que aconteciam na Z-3 a maioria estavam voltados para trabalharmos com mulheres e/ou jovens, entre eles:

- Violência contra a mulher;

- Auto-confiança da mulher;

- Qual o papel da mulher na sociedade;

- O problema da falta de matéria prima nas entressafras;

No Dunas, com o grupo de idosas do CRAS, pessoas já com uma longa experiência de vida e a maioria ainda vivendo situações de subsistência, como a falta de saneamento básico, a violência urbana, problemas de drogas com os filhos e, várias outras situações que envolvam uma comunidade que não é assistida pelos órgãos públicos.

A PRÁTICA

Houve muitos diálogos e reflexões sobre os trabalhos que íamos fazendo, tudo como forma de avaliação e também planejamento para os próximos. Verificando os resultados, todos juntos, poderíamos ir trabalhando com os problemas para surgirem às reflexões e com elas as mudanças, tanto nas comunidades como no próprio grupo, ainda inexperiente e talvez até muito inseguro, pois alguns membros tinham experiências apenas com a teoria.

Começamos a participar de fóruns, tanto se inscrevendo como a convites, para o TOCO, no meu ponto de vista, o trabalho prático que estávamos desenvolvendo e a participação nestes movimentos seria um incentivo as mudanças, mas também nos proporcionaria diversos aprendizados, nos atualizando dentro da proposta da nossa temática.

O TOCO com certeza nasceu com algumas tendências, mas foi colocando na bagagem diversas experiências e se tornando diferente, sempre a partir da construção do que queremos ser, dentro das condições que nos são dadas socialmente e culturalmente.

SENTIMENTOS

Com o TOCO me sinto eternamente entusiasmada, quanto mais penso que estou certa, mais penso que preciso mudar, com o trabalho nas comunidades percebo a importância de não me tornar uma opressora, isso é muito fácil, o cuidado e controle tem que ser diário, pois se enfrenta muitas adversidades e estas fazem com que nos tornemos rígidas demais, tanto conosco como com os outros.

Nas reflexões e leituras que fazemos sinto (e quero) que as comunidades tenham mais participação, respeito, responsabilidade, empoderamento, interconectar-se com os problemas sociais, serem mais otimistas e terem esperança nas transformações que podem ser feitas por eles.

Acho que tem que se romper com a lógica do “se apanho tenho que bater”, na verdade discutir bastante o conceito dos direitos e deveres, para terem mais responsabilidades nas suas atitudes, como diz o Boal “O teatro é uma arma e é o povo quem tem que manejá-la”.

Fazer o teatro do oprimido está sendo um diálogo diante de cada contexto apresentado, tenho que buscar permanentemente o conhecimento destas realidades, estabelecendo a escuta e a construção efetiva das condições dialógicas junto a cada grupo, para surgir então, a práxis.

Lucia Elaine Carvalho Berndt

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