domingo, 13 de maio de 2012

ATUALIDADE DE PAULO FREIRE: Continuando e reinventando um legado


RESENHA: GADOTTI, Moacir. ATUALIDADE DE PAULO FREIRE
Continuando e reinventando um legado. Milano, 2002.

Moacir Gadotti nos apresenta um texto muito objetivo no qual começa expondo a situação do conhecimento acerca da teoria freiriana fora do Brasil. Ele coloca que a UNESCO, próximo aos anos 2000, criou um documento convocando para um congresso internacional e nesse documento mostrava-se o desconhecimento por parte destes das teorias posteriores às décadas de 70 escritas por Paulo Freire. Os textos do autor começaram a ser publicados em português depois de seu retorno do exilio em 1979.
A partir deste quadro Gadotti situa o leitor na teoria freiriana, apontando em primeiro lugar um dos pilares não citados no relatório da UNESCO, o qual seria o “aprender para quê”. Os outros quatro são: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
O que é o ato de conhecer? Vivemos em uma sociedade do conhecimento? O que se tem percebido é muito mais informação circulando em todos os meios de comunicação, enquanto os meios de acesso ao conhecimento continuam precários. Dessa forma podemos nos situar em que contexto vivemos para pensarmos sobre o ato de aprender.
Como acontece a construção do conhecimento? Resumindo as teses de Paulo Freire a respeito podemos dizer que conhecer é construir categorias de pensamento a partir de algo que se deseja conhecer, algo que seja selecionado dentre um mundo de informações que muitas vezes não passam de lixo. Conhecer é uma condição do ser humano. Todos podem aprender e ensinar.
             Paulo Freire também vai afirmar que se aprende através das próprias experiências a vida toda e é preciso de tempo para aprender. Aprende-se o que tem importância para si, sendo que acumular conhecimentos não é aprender. E a frase que da o maior exemplo da dialogia freiriana é: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”.
 Gadotti nos faz pensar também a respeito da educação utilitarista que se vem instalando cada vez mais nas instituições de ensino. Contrapõe a noção de saberes à de competências. Essa última remete a ideia de um sujeito tornando-se ferramenta produtiva para o sistema capitalista, formam-se indivíduos com competências para atuar em diversos setores da sociedade, mas cada vez menos são formados seres humanos. É necessário que o ser humano não seja um simples individuo de competências, mas sim um sujeito do conhecimento que saiba pensar e saiba o porquê aprende e o que aprende.
Em uma formação pode-se adquirir muitos saberes e certos conhecimentos, no entanto se esta pessoa não tiver em sua prática a competência necessária para um professor, este saber torna-se inválido. Segundo o autor é atuando que “aprendemos técnicas e métodos sobre ‘como fazer’.”, essa afirmação pode-se encontrar também na poética do Teatro do Oprimido de Augusto Boal, pois, segundo este, um fórum não se faz de palavras e sim de ações que possam ser transformadoras.
Para ensinar, antes de tudo, é necessário que os educadores saibam como se aprende. O professor precisa pensar na consequência de suas atividades futuramente, e entender que não trabalha sozinho, que a escola deve ser um coletivo. A questão do coletivo é de grande relevância para a atualidade escolar brasileira, posto que no sistema disciplinarizado em que se encontra, muitos dos profissionais das instituições de ensino não se comunicam e não se enxergam enquanto coletividade.
. E da mesma forma que é necessário saber o porque saber aprender é também importante saber ensinar: ““saber porque” está ensinando e o que está ensinando”(GADOTTI, p:4). Saber ensinar implica paradigmas para o novo professor, os quais Gadotti explica em seu artigo. O novo professor é um profissional do sentido, pois ele dá/constrói sentido para o conhecimento, é profissional que aprende em rede, pois participa colaborativamente do processo de aprendizagem, o professor deve religar a escola e o prazer, deve ter ética, e para ser ético deve ter um sonho, ou seja, uma perspectiva, pensar numa educação com olhos no futuro e deve ser por fim um promotor da vida, da paz e da sustentabilidade. A educação deve confundir-se com o processo de humanização.

Mauricio Mezzomo Dias e Graziele Soares de Barros


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